Crédito é arma contra evasão


Crédito é arma contra evasão Para especialistas, financiamento estudantil reduz muito o número de alunos que deixam a faculdade, além de alavancar o PIB, a produtividade e o grau de inovação no mercado

Juliana Maria dos Santos, técnica em enfermagem, ainda não chegou ao fim do curso superior que lhe dará o diploma de graduação na área e o esperado emprego qualificado, com rendimento maior que o atual salário de R$ 678. Aos 24 anos, ela poderia se formar no fim do ano que vem, mas seu sonho foi atropelado pelo preço da mensalidade da faculdade particular, R$ 794, alto demais para seu nível de renda. Como 50% dos estudantes brasileiros aprovados em instituições privadas de ensino superior, ela desistiu do curso depois de três semestres e não conseguir o crédito para estudar. Em agosto, Juliana vai tentar de novo. “Vou me candidatar e, se conseguir o financiamento, me formo. É meu sonho.”

Indicador vital da produtividade, qualificação e da renda do trabalhador, o ensino superior no país ainda tem baixo patamar de financiamento. Perto de 20% dos alunos matriculados utilizam algum tipo de crédito, seja público ou privado. “A demanda é bem maior que isso. Cerca 50% dos estudantes que estão matriculados no ensino superior privado precisariam do financiamento”, garante Rafael Baddini, diretor de Marketing da Ideal Invest, que opera o crédito Pravaler, ferramenta do setor.

O crédito estudantil é um dos fatores também para combater a alta taxa de evasão no ensino superior. Nas instituições privadas, o percentual de abandono chega a 53% e o crédito, segundo especialistas, está entre as armas que podem trazer esse índice para perto de 40%. “Certamente, o financiamento é uma das ferramentas importantes para levar o estudante a concluir o curso. No Brasil, ele deveria ser concedido a priori, ou seja, antes de o estudante ingressar no curso”, defende Roberto Lobo, presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia.

A aprovação prévia, segundo Lobo, garante ao estudante iniciar a graduação com os valores já contratados, o que amplia suas chances de permanecer no curso, o contrário do que ocorreu com Juliana Santos, que, como não conseguiu concretizar a expectativa de crédito, foi forçada a deixar a faculdade. “A qualificação tem impactos no grau de inovação do país, reflete-se na renda e no Produto Interno Bruto (PIB)”, reforça o especialista. Para o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais, o reforço na política do crédito estudantil elevaria o percentual daqueles estudantes que entram na faculdade e concluem o curso para perto de 70%.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base no Cadastro Central de Empresas (Cempre), mostra que, no Brasil, os assalariados com nível superior chegam a ter renda 219,4% superior àqueles com menos tempo de estudo. Indicador da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) feito entre 30 países revelou que, entre os observados, o Brasil foi onde se registrou maior relação entre curso superior completo e elevação no salário. Depois do diploma, o crescimento da renda do brasileiro chega a 156%.

EMPREGABILIDADE O curso superior faz crescer também a empregabilidade para aqueles que conseguem chegar ao diploma. Segundo relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), enquanto 68,7% dos brasileiros sem ensino médio estão no mercado de trabalho, a taxa avança para 77,4% entre aqueles que concluíram a formação e para 85,6% entre os trabalhadores com curso superior completo.

É o caso de Natália Teixeira Santos. Ela foi a primeira de sua família a ingressar no ensino superior. Aos 35 anos, prepara-se para concluir o pagamento do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), crédito do governo federal, no ano que vem. Natália financiou o volume de R$ 30 mil, a juros de 6,5% ao ano – que depois caíram para 2,5% ao ano –, o que garantiu o seu diploma no curso de administração de empresas. “Só me formei porque tive o Fies. Com a graduação, consegui um emprego muito bom e minha renda ficou quatro vezes maior. O curso superior foi decisivo para conseguir trabalho, comprar um carro e a casa própria”, aponta.

No Brasil, o volume de crédito movimentado pelo Fies, linha do governo federal, atingiu R$ 16,1 bilhões em 2012, e até março deste ano o volume chegou a
R$ 8,5 bilhões. Para especialistas, o montante por ano teria espaço para dobrar, se considerada a demanda dos estudantes. “O crédito educativo, no Brasil, está entre as linhas que movimentam os menores volumes de recursos. Nos Estados Unidos, ele só perde para o crédito imobiliário”, compara Baddini.

A estudante Grazielle Hellen Souza, de 17, foi aprovada no vestibular para engenharia civil e conseguiu financiar 50% do valor do curso. A mensalidade, que hoje é de pouco mais de R$ 1 mil, cai para R$ 500. “O Fies me ajudou demais, porque o valor do curso é realmente muito alto. Com a opção de financiar 50%, vou conseguir me formar com mais tranquilidade.”

Fonte : Estado de Minas.